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quarta-feira, 22 de junho de 2016

Comentário sobre o filme "A linguagem do coração" (2014)*


Acabei de assistir ao filme "Marie Heurtin" (de Jean-Pierre Améris, França), originalmente lançado em 2014 e apenas em 2016 no Brasil, com o título "A linguagem do coração". O drama biográfico é uma adaptação cinematográfica baseada em parte da história da vida educacional da surdocega francesa Marie Heurtin (interpretada pela atriz surda Ariana Rivoire), que foi educada pela Irmã Marie Margueritte (Isabelle Carré) no final do século XIX. Diferentemente de outras adaptações de histórias de surdocegos — como "Miracle worker" (1962), que é sobre o trabalho desenvolvido por Anne Sullivan com Hellen Keller, ou "Black" (2005), que narra uma relação semelhante entre uma menina surdocega indiana e seu professor que mais tarde adquire Alzheimer —, "Marie Heurtin" está baseado em um contexto muito atrativo para os interessados em educação de surdos.

A história acontece no Instituto Larnay, uma espécie de convento-escola para surdas dirigido por freiras da congregação Filhas da Sabedoria. Nesse cenário do Instituto, em Poitiers, não apenas as alunas são surdas; a maioria das freiras também o são. É interessante observar que, apesar de estar ambientado poucos anos depois do famoso Congresso de Milão em 1880, em que especialistas ouvintes decidiram pela proibição da sinalização no processo educativo dos surdos, o filme apresenta uma instituição em descompasso com seu tempo: a língua de sinais francesa ocupa lugar de destaque nos diálogos; nota-se até mesmo freiras ouvintes atuando como intérpretes em momentos formais como os rituais de oração durante as refeições. No período retratado pelo filme, ou pelo menos no foco conferido a ele, nenhum indício de que práticas de oralização aconteciam lá é destacado, com exceção, talvez, de um breve comentário feito pela protagonista ao final do longa-metragem.

Apesar do aspecto dramático tendendo ao melancólico, o enredo é suave e tem caráter didático por retratar um breve e pouco lembrado trecho da história da educação de surdos. Recomendo aos colegas que trabalham com as temáticas relacionadas à educação de surdos (e de surdocegos também), à aquisição de linguagem, à educação especial e à inclusão escolar.

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*Comentário de Pedro Henrique Witchs publicado no Facebook em 22 jun. 2016.

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